quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Carta de um educador militante ao Prefeito João da Costa

Recife, 01 de dezembro de 2009.
Ao
Exmo. Sr.
João da Costa
MD. Prefeito do Recife

“...Um homem roubado nunca se engana...”
Do complexo ao trivial a frase acima expressa, com simplicidade, a nossa indignação diante do que está acontecendo na Secretaria de Educação do nosso amado Recife. Estamos diante de uma involução!
Palavras como autonomia, respeito, consideração e humildade foram substituídas pelo centralismo de quem faz de sua própria cabeça ou só apóia o que lhe interessa.
O que deveria ser uma prática: planejar juntos, valorizar ações, reconhecer capacidades dos que estudam, vivencia e tecnicamente entendem de processos educativos, não existe mais.
Vivemos uma contradição.
Como dizer que temos um técnico em educação se o Secretário é médico?
Nesta cidade não tem ninguém da educação com essa competência?
O setorial de educação do PT não tem quadros?
Por que a descontinuidade no processo da educação se foi a secretaria de educação a melhor avaliada na gestão João Paulo?
É para o controle do orçamento? Com que fins? Economizar recursos?
E o alinhamento “serviu” ao governo do estado com a imitação mal feita de tudo que é feito por lá, inclusive a opção pela Fundação Roberto Marinho... Que pena que somos incapazes de cuidar da educação!
E quanto à qualificação como gestor:
Como dizer que temos um gestor? Não havia alguém que sabia conciliar os sentidos pedagógicos da política com o administrativo? As pessoas que são do campo da educação não têm este perfil?
A gestão moderna é baseada no centralismo -“eu penso logo todos façam”!
É feita do assédio moral segundo o qual ninguém pode exigir e discordar do “Rei” ...Voltamos à monarquia! “Quem não concorda, não acredita, pode sair!” ,Pe. Reginaldo merece este tratamento?
É sempre o zerar, por que chegou agora, não é da área? Começar de onde? Como ficam os êxitos dos processos já construídos?
Cuidar das pessoas virou dar grito, desconsiderar os técnicos e as pessoas que defendem a transparência nas decisões.
Não recebe, não ouve, e coloca as questões sempre no campo da amizade, do doméstico, ou do “ “querem me queimar “!
Não se pode cobrar promessas de campanha, de “continuidade” do projeto político, de coerência com o respeito aos direitos construídos como políticas públicas, pelo jeito petista de governar.
“Ou fazemos como FHC “- “ esqueça o que disse ou escrevi”?
É agir como fez com a comunidade do Pillar, diante da ameaça de policiais, a atitude da diretora de suspender as aulas não foi a certa? Deixaria seus filhos para serem espancados (onde estudam os seus filhos)?. Sua resposta sem se ater ao fato foi de dizer simplesmente “quem manda abrir ou fechar escola sou eu” e depois nem lá apareceu como responsável pela educação da cidade como foi delegado pelo prefeito.
É possível um gestor que, não sendo da área, não dialogar com o conjunto das pessoas? Ele não deveria ter a humildade de escutar e decidir juntos?
O que vemos é o seu centralismo e a falta de autonomia de seus diretores e gerentes.
Temos que conviver com o que ele diz abertamente - que não tem tempo para falar com todo mundo e as pessoas devem se dirigir aos seus assessores, que nada decidem ou resolvem sem seu “autorizo” – (a nova palavra dos corredores da Secretaria).
Não é preocupante saber da falta de autonomia de seu diretor administrativo/financeiro, que exista pasta do que é para pagar e não pagar, mesmo que estes serviços tenham sido prestados.
Qual a leitura equivocada, sem necessidade, sem nenhuma “crise” de poder, ao adiar a eleição dos diretores em meio a um processo, dizendo que isso é democrático e que vai dar mais autonomia às diretoras, prometendo que quem deve “mandar “são elas/es? Isso não valeria para o que seria eleito, não parece jogo de cartas marcadas?
Andar dizendo que os técnicos da secretaria não fazem nada e que se pode resolver tudo direto com as escolas, demonstra falta de clareza do papel dos diretores de escolas, e da política feita em rede, que deve ser mediada por pessoas “qualificadas e das áreas”.
Fácil foi contratar “ o seu motorista particular ganhado mais que os outros, seu “funcionário” de confiança.
Afinal qual o perfil exigido pelo prefeito, desconfio que a indicação esteja no campo do sou amigo “ou como diz os jornais” ele é da cozinha do prefeito. Se isto é o que parece ser o fato da indicação, estamos diante de um novo nepotismo, em que substituímos os familiares e colocamos “os meus”.
Como é contraditória, qualquer pessoa pode ser secretário de educação, mas como fica o mérito da docência e da vivencia da prática educativa? Mas para dirigir uma escola se exige a especificidade... Como ficamos?
Do simples ao complexo, precisamos nos perguntar, os ônibus que sempre foram solicitados pelos professores/as e escolas para seus passeios precisam passar pelo gabinete do secretário? O que era uma política descentralizada e de autonomia das escolas para o acesso aos bens da cidade (que pode ser uma fábrica de sorvete) se transformou em um “toma lá dá cá”.
Ruim saber que os jovens das bandas marciais tiveram de solicitar a interferência de um vereador para ter os ônibus para participar dos concursos de banda. E olhe que se tem uma tradição de reconhecimento, pela eficiência nestes e noutros eventos....
Promoveu-se uma festa com o dinheiro público (feita pela secretaria em mais uma ingerência na vida do sindicato dos professores), em plena contenção de despesas - “crise”, em que o comentário das pessoas que foram dizia... ”muita comida e bebida de graça”...
Qual foi o real interesse do secretário? Passar a idéia de que está tudo bem e que os diretores e técnicos lhe apóiam?
Para liderar este processo, deveria ser alguém que entenda os sentidos da prática educativa e de suas exigências para a continuidade no jeito de agir de educadores/as e estudantes que, já na escola, devem exercitar o ser sujeitos de direitos e coletivos em sua prática cidadã.
Estamos diante de alguém que ocupa um lugar estratégico na construção de uma nova cidade, contudo, os que ficaram, apesar da saída da secretária anterior, acreditaram na continuidade e na possibilidade do diálogo... No entanto, esses/as são ameaçados.
Aqueles que foram indicados para cargos de comando na articulação das ações, se sentem inviabilizados, estão pedindo exoneração.
O Prefeito entrou, ou entramos nós em uma roubada?
Vivo Zumbi (linda caminhada), viva Zapata... Todas/os que acreditam na educação como condição de transformação da realidade.
Quem faz a cidade somos nós, acredito.
Será que seu secretario de educação sabe o que é uma cidade educadora? Nossas crianças se apresentaram no Geradão, não deveria ser no Teatro Santa Isabel, no Marco Zero, onde sempre encantaram com seu canto/coral o seu ser cidadão de nossa cidade.
João Simão
Cidadão do Recife, militante do PT, professor e Educador
postado por Aline Marques

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